sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

A ONU é uma organização inútil?


Por: Francisco Roberto Caporal[i]

Não sou especialista em relações internacionais, mas como cidadão comum, que acompanha a história e tem opinião, penso que é hora de manifestar minha indignação. Acabo de ver na TV o senhor Ban Ki-moon, Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), se lamentando por mais um genocídio ocorrido em Aleppo, na Síria. Esta é uma cena que vem se repetindo faz anos, sempre que há uma tragédia como esta, ou quando morrem milhares de refugiados em distintos mares deste planeta ou quando os refugiados são perseguidos ou são vítimas da xenofobia dos países do Norte, o senhor Secretário Geral da ONU, que está há quase 10 anos no cargo, aparece para se lamentar. Isso, demonstra que a ONU não tem nenhuma governança e que tem sido incapaz de solucionar os sérios conflitos que vêm ocorrendo no mundo. O próximo Secretario Geral da ONU será o português Antonio Guterres, que assume em janeiro do próximo ano. Espero que não seja outro que vem para lamentar-se.

Enfim, esta inércia e ineficiência da organização me faz crer que a ONU é uma organização inútil. E não é por falta de uma burocracia mastodôntica. São órgãos ou programas vinculados à ONU a AIEA, OACI, IFAD, OIT, OMI, FMI, UNESCO, OMT, UPU, BM, PAM, OMS, OMPI, OMN, UNICEF, PNUMA. Nem sei se coloquei todos, mas, somando todas estas siglas, podemos ter uma ideia do tamanho do orçamento deste monstro burocrático mundial. Um aparato burocrático que precisa ser mantido com dinheiro arrecadado dos países membros, para manter funcionários com altos salários e muitas pompas.

Assim como a ONU, seus “filhotes”, FAO e PNUMA (para falar dos que estão mais próximos do meu campo de estudo), também são inúteis. Seus logros não justificam a enorme máquina burocrática mantida em finos escritórios e prédios de luxo espalhados pelo mundo. A FAO, organização encarregada de cuidar da agricultura e da alimentação no mundo, registra seu fracasso nos relatórios que ela mesma divulga ou nas estatísticas disponíveis na internet no seu FAOSTAT. Todos os anos, o que vemos é que o número de famintos e desnutridos segue entre 800 milhões e um bilhão de pessoas que passam fome todos os dias.

No campo da agricultura a FAO foi uma das entidades que deram inestimável apoio à implementação da Revolução Verde, com todos os impactos dos agroquímicos e transgênicos por demais conhecidos. Quando o modelo da RV começou a fazer água, a FAO inventou uma tal de Intensificação Verde e, hoje em dia, sem solucionar nada dos problemas que ajudou a criar, inventa um programa de Agroecologia para os pobres. Seria inacreditável, se não fosse coisa da FAO. Por quê? Porque a organização continua apoiando a agricultura industrial de altos insumos e passa a fazer um discurso de “boazinha” e agroecológica. Aliás, a mesma FAO que alerta para a enorme crise de abastecimento de água potável que se avizinha, apoia uma agricultura irrigada para a produção e exportação de grãos que vão alimentar as vacas do Norte e que consome 70% da água doce do planeta.
Por sua vez, o PNUMA, órgão máximo responsável pela preservação do meio ambiente, vem seguindo a mesma trajetória de sua irmã. Desde que o PNUMA foi criado, em 1972, o mundo só viu piorar a questão ambiental. Os próprios relatórios divulgados pelo PNUMA mostram isso. De lá para cá, foram extintas centenas de espécies, aumentou enormemente o desmatamento das florestas tropicais, houve uma brutal redução da biodiversidade, aumentou a desertificação e salinização dos solos, piorou a emissão de gases de efeito estufa, para citar alguns exemplos que indicam a inutilidade deste aparato ecotecnocrático. Não se pode negar, entretanto, que o PNUMA, através de seus relatórios tem sido uma importante fonte de informação sobre os avanços da destruição do meio ambiente.

Aliás, permitam-me um desabafo final, creio que foram e são inúteis, também as organizações de Bretton Woods, criadas após a II Grande Guerra, sob a hegemonia dos USA. O FMI é o exemplo mais claro deste engodo. Ao longo dos anos, suas políticas e empréstimos draconianos, sufocaram os países do Sul. Suas ações serviram para apoiar governos ditatoriais e salvar as elites comerciais e financeiras do terceiro mundo, ao tempo em que contribuíam para o empobrecimento dos já pobres terceiro-mundistas, devido ao endividamento dos países.

O Banco Mundial é outro exemplo da ineficácia das organizações de Bretton Woods. Os resultados positivos de suas políticas e empréstimos só aparecem em seus próprios relatórios, quando aparecem. No que diz respeito ao desenvolvimento rural, por exemplo, os programas do Banco Mundial que conheci foram um fracasso. Impuseram políticas, programas e estratégias equivocadas, muitas vezes trazidas de outras realidades completamente alheias à nossa. Não conheço projetos do BM que tenham resolvido os problemas do mundo rural onde foram implantados.
Na mesma linha a Organização Mundial do Comércio - OMC, que devia ser OIC, ainda nos anos 40, o que nunca foi aprovado pelos USA. Depois foi GATT – Acordo Geral de Tarifas e Comércio – que ficou de 1986 a 1994 enrolando na tal Rodada Uruguai, sem muitos avanços. Se não se resolve o problema, se cria outra organização. Nasce a OMC, em 1995. Do mesmo modo, segue a enrolação com a tal Rodada Doha. Enquanto isso, os países do Norte deitam e rolam com seus subsídios e subvenções à agricultura, impondo sacrifícios e preços baixos para os alimentos produzidos pelos mais pobres do campo, nos países periféricos.

Vale a pena refletir!



[i] O autor é Engenheiro Agrônomo. Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Recife, 16/12/2016.  Email: caporalfr@gmail.com
- Aos interessados em aprofundar no estudo deste assunto recomendamos a leitura do livro: ESTEVAN, A. (comp.) FMI, Banco Mundial y GATT – 50 años bastan. El libro del Foro Alternativo Las otras voces del planeta. Madrid: Editorial TALASA, 1995. 510p.