Por: Francisco Roberto Caporal
Depois que li a Encíclica Laudato Sí, do Papa Francisco, divulgada em 2015, fiquei imaginando que esse seria o Papa do ambientalismo, como muitos de nós ecologistas passamos a nos referir a ele. Nas suas quase 200 páginas, a Encíclica adverte e convoca a humanidade para que juntos possamos cuidar melhor da “nossa casa comum”. O conjunto das reflexões socioecológicas que constam no documento não são propriamente novidades. O novo estava no fato de ser uma Encíclica Papal, documento utilizado pelo Vaticano para transmitir um ensinamento que o Papa que ver disseminado entre os católicos.
De fato, o texto trás uma profunda crítica ao modelo de sociedade consumista em que vivemos, ao modelo predatório de crescimento econômico que tem levado à danos já irreparáveis à biodiversidade, aos riscos enormes que já enfrentamos e que se agravarão com respeito à água potável e ao processo de privatização da água, que já está em curso, assim como uma crítica aos tecnocratas e àqueles que professam uma fé cega nas tecnologias.
Para o interesse deste artigo, vale destacar, por exemplo, a passagem a seguir, onde meu tocaio escreve:
“131. Quero recolher aqui a posição equilibrada de São João Paulo II, pondo em destaque os benefícios dos progressos científicos e tecnológicos, que «manifestam quanto é nobre a vocação do homem para participar de modo responsável na ação criadora de Deus», mas ao mesmo tempo recordava que «toda e qualquer intervenção numa área determinada do ecossistema não pode prescindir da consideração das suas consequências noutras áreas». Afirmava que a Igreja aprecia a contribuição «do estudo e das aplicações da biologia molecular, completada por outras disciplinas como a genética e a sua aplicação tecnológica na agricultura e na indústria », embora dissesse também que isto não deve levar a uma «indiscriminada manipulação genética » que ignore os efeitos negativos destas intervenções.”
Não obstante, para nossa surpresa, recentemente (julho de 2017) o Vaticano resvalou na maionese, como se diz no popular. O Papa determinou recomendações sobre a Eucaristia e, através de carta endereçada aos bispos pelo Cardeal Robert Sarah, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, foram feitas diversas advertências quanto à “qualidade” das hóstias de do vinho, que na Eucaristia se transformariam no corpo e sangue de Cristo. Segundo o Vaticano a orientação foi necessária após a hóstia e o vinho da Eucaristia começarem a ser vendidos em supermercados e até pela internet.
Mas qual foi o motivo da surpresa? Ocorre que na mesma carta o senhor Cardeal orienta aos bispos do mundo inteiro que “a eucaristia preparada com organismos geneticamente modificados pode ser considerada válida”. Isto é, a Igreja não se opõe a ingredientes transgênicos na fabricação das hóstias e na mesma linha não se oporá aos vinhos feitos de uvas transgênicas. Quer dizer, hóstia sem glúten ou falsificada, com açúcar, mel, etc., invalida a eucaristia, mas transgênico é livre.
Ora, como pode o corpo e o sangue de Cristo serem modificados geneticamente, manipulados pela mesma ciência e tecnologia que o Papa condena na Encíclica antes mencionada. Será que o Vaticano vai colocar nas embalagens das hóstias um alerta para o fato de serem ou não transgênicas? Como fiéis, os católicos podem exigir na hora de receber a comunhão que se esclareça se estão comendo hóstias transgênicas. Não ficaria interessante esta cena, na igreja?
hahahaha
ResponderExcluirseria maravilhosamente transgressor
Adoraria assistir à reação popular.
Excluirhttps://www.brasildefato.com.br/2019/08/19/artigo-or-a-economia-de-francisco/
ResponderExcluir